A Organização Mundial da Saúde definiu que, para uma pessoa ser considerada saudável, existem 4 pilares: ter uma saúde física, completa; saúde mental preservada; saúde econômica-social (ter como viver, onde viver, etc); saúde sexual resguardada.
Cerca de 40% das mulheres já têm, cronicamente, alguns problemas em relação às questões sexuais. Por volta dos 40 anos em diante, uma mulher já pode passar por questões hormonais, e as que estiverem em torno dos 50 podem estar passando pelo advento do climatério, sendo a menopausa a última menstruação dessa mulher.
Muitas mulheres nesta fase dizem “eu consegui resolver uma série de problemas. Não tenho mais ondas de calor, resolvi o problema da insônia, já não tenho mais uma flacidez tão grande na pele e assim por diante, mas não consigo resolver a questão sexual.” Muitas vezes a mulher acha que está deprimida, ou com a autoestima baixa, mas quando começamos a investigar, este é apenas a ponta do iceberg. Portanto, é muito importante abrir o jogo, e é preciso conversar não só com o terapeuta, com o ginecologista, ou uma amiga, mas com seu parceiro.
A comunicação é o fator mais importante. Quando um casal tem abertura para falar desses problemas, é possível resolver mais de 40 a 50% dos casos das disfunções sexuais. Muitas dessas dificuldades são apenas de um alinhamento de expectativas em relação às questões da sexualidade. É preciso lembrar que quando existe um casal com uma faixa etária parecida, os dois estão sujeitos a alterações semelhantes nesta fase. Se as mulheres expõem suas dificuldades relacionadas à de falta de desejo, menor lubrificação e menor disponibilidade, muitas vezes descobrem que o parceiro também está passando por sintomas semelhantes. Isso traz um grande alívio para o casal. Uma pessoa que esteja bem consigo mesma em qualquer um dos aspectos, tem uma chance infinitamente maior de estar bem do ponto de vista sexual, do que uma pessoa que tem qualquer tipo de problema pingando diariamente sobre sua saúde sexual e sobre seu relacionamento. Grande parte das vezes as pessoas conseguem buscar soluções para os seus problemas pessoais, mas deixam de lado as soluções para as dificuldades do relacionamento. Hoje em dia, para o tratamento da saúde sexual, é indicado a psicoterapia individual, e em paralelo, a terapia de casal. Então não existe mais aquela situação de que terapia de casal é o último recurso antes do divórcio, ou antes do término de um relacionamento. A terapia de casal já está indicada para qualquer casal que se encontre em uma dificuldade de relacionamento, inclusive as dificuldades sexuais. Quando o relacionamento já está estressado, é muito difícil que uma conversa de um assunto espinhoso, como por exemplo, uma dificuldade sexual entre o casal, não gere mais atrito. Então temos que reforçar o papel importante dos terapeutas sexuais e dos terapeutas de casal para auxílio nessa questão.
Outro assunto muito importante e frequente, são os relacionados aos nossos mitos, nossas crenças, aos tabus que trazemos, às vezes desde a infância. Temos um padrão muito parecido de família. A mulher é criada desde a época mais antiga, de que existe uma série de restrições e que visar no seu próprio prazer é errado. E chega um determinado momento da vida em que ela quer desfrutar ao máximo de um prazer que, no seu íntimo, e isso é visto como errado. Na hora em que ela pode começar a desfrutar, – porque já foi mãe, já não tem o medo de ficar grávida, está bem com o seu corpo e entrando em uma série de aspectos da maturidade que a faz mais livre -, a sociedade como um todo e o homem não estão preparados. Mas a mulher não pode colocar toda a responsabilidade na menopausa, e toda a solução na reposição hormonal. A cabeça é o psicológico, e é lá que moram e giram os problemas. É ali que a gente tem que fazer o maior investimento, e nessa fase da vida é uma tendência muito comum de inverter as coisas e falar que todos os problemas existem porque se está passando pelas questões da menopausa. E não é isso… Existe um estudo publicado por uma pesquisadora dos Estados Unidos que mostrou que quando a mulher chega bem na menopausa, ou seja, ela teve uma saúde geral e sexual boa durante toda a sua vida, ela tem uma chance infinitamente menor de ter problemas decorrentes da questão hormonal nessa fase do que qualquer mulher que nunca lidou com a questão e resolva tratar de todos os seus problemas, inclusive sexuais, na época da menopausa. Assim, é preciso começar a investir na saúde sexual enquanto a mulher é extremamente jovem. As questões sexuais têm que ser trabalhadas sempre em paralelo com a vida da mulher, e não só a partir do momento em que ela encontra um problema. Em muitos casos se percebe que sempre houve um problema, mas que nunca foi abordado adequadamente e quando ele se torna gigante, aí acende uma luzinha e a pessoa quer resolver. Portanto, não fique em sua zona de conforto, porque a mulher no fundo, sabe. Muitas vezes falta coragem, ou parece que a chegada dessa fase na vida, de buscar alguma mudança, alguma transformação vai desencadear muitos processos. Mas a conta chega. O que a gente vê cada vez mais é que as mulheres estão mais instruídas, as fontes de informação são cada vez mais disponíveis e melhores, mas o que tem de diferente nessa questão toda é que, dependendo do que essa mulher estiver vivendo, se está trazendo sofrimento ou não, é só ela que pode saber.
Outro ponto importante é a questão hormonal. Aquela mulher que sempre teve uma vida sexual satisfatória e que de repente, com o advento da menopausa ou do climatério até tem vontade mas o corpo não funciona; ou tinha vontade e agora não consegue mais ter lubrificação e não atinge mais o orgasmo. A primeira coisa que essa mulher percebe é uma demora significativa em atingir o orgasmo. Ela, então, começa arranjar várias desculpas: está preocupada, o dia não foi bom… Mas, na verdade, clinicamente falando, chega menos sangue, literalmente, na região vaginal e estimula menos os mecanismos de excitação feminina. Então, o envelhecimento, o enrijecimento das artérias, talvez alguma doença cardiovascular, uma hipertensão, pré diabetes, uma medicação que a mulher utilize, enfim, qualquer fator pode diminuir o fluxo sanguíneo para aquela região e isso começa a fazer com que atingir o orgasmo fique mais difícil. Quando isso acontece, a mulher se desestimula e vai se desinteressando. Consequentemente, por causa dessa falta de interesse, há a questão da diminuição da lubrificação e um atrito maior na relação sexual. Esse atrito causa desconforto e, em muitas dessas mulheres acaba causando infecções urinárias de repetição, corrimento depois da relação sexual, desconforto com cólicas nos dias subsequentes e assim por diante. E assim, a mulher passa a não ter mais vontade, e isso acontece com qualquer coisa que traga falta de prazer e na sequência, sofrimento.
Portanto, as mulheres precisam investigar se a disfunção ou a dificuldade que estão apresentando tem ou não a ver com a menopausa. Aquelas que analisaram todos os pontos citados anteriormente e apresentam algumas questões, podem ter uma base hormonal importante e isso pode ser ajudado com um bom tratamento. Aquelas que já apresentavam dificuldades em relação a não ter vontade, sem se preocuparem se o corpo está respondendo ou não, na grande maioria das vezes tem causas psicológicas associadas. Responsabilizar a menopausa, a questão hormonal pelas falhas dessa fase, é ter um olhar reduzido, porque não é assim que funciona. 60% dos casos são mulheres com problemas na esfera psicológica. Normalmente são problemas de desgaste de relacionamentos longos, perda de admiração pelo parceiro, dificuldades físicas associadas, uma frustração em relação ao parceiro ou ao relacionamento em si. Então, quando uma mulher nessa fase quiser saber o que fazer, ela precisa primeiro perceber se existe um problema de fato relacionado com esta fase hormonal pela qual está passando, ou se há um problema ligado às outras questões pessoais, de relacionamento, de criação, de mitos e tabus e tudo mais que só se agravou ou só aflorou.
A mulher precisa procurar se sentir bem consigo mesma, e não carregar a responsabilidade da relação, porque as relações são bilaterais. Hoje em dia essas questões de saúde sexual são tão importantes, que mesmo em centros de medicina reprodutiva ou saúde reprodutiva, ou ainda as clínicas de reprodução já estão olhando para as questões da sexualidade. Porque obviamente um casal que tem dificuldade sexual tem menor chance de conceber. A associação entre infertilidade e disfunção sexual é muito grande, porque a mulher se responsabiliza. Muitas mulheres associam o ato sexual a engravidar, e isso acaba levando a uma disfunção sexual. A anorgasmia é a segunda disfunção sexual mais comum nas mulheres, e só vem atrás da falta de desejo sexual, e pode atingir 40 a 45% das mulheres em alguma fase da vida. O prazer sexual feminino também passa pelo orgasmo, mas não é obrigatoriamente vinculado com ele…
A finalidade principal de uma atividade sexual entre um casal de longa duração (casal que está junto há mais de 6 meses) é a proximidade, e a mulher quer cuidar do relacionamento. Isso explica muito a atividade sexual dos casais da terceira idade, porque não é a prática sexual, mas a aproximação, o vínculo, e reforçar a ligação existente. Esse é disparado o maior motivo pelo qual as mulheres têm atividade sexual depois de um determinado momento em relação à um relacionamento longo. É muito importante entendermos que, apesar das dificuldades trazidas pelo corpo, pelas questões hormonais, é preciso preservar ou tentar buscar, pelo menos ainda que internamente, essa vontade de ficar junto, seja do jeito que for. Na verdade, o que mantém os casais satisfeitos do ponto de vista sexual é encontrando as expectativas que façam com que os 2 fiquem mais ligados e mais unidos. Então, quando a mulher tiver certeza ou quando o casal tiver certeza de que conseguiu chegar nesse ponto, independente da prática que tiverem, eles vão conseguir ter a satisfação que está sendo tão buscada, não importando o tipo de prática sexual que esteja sendo vivida por eles.