Hoje vamos falar de um tema muito especial. Todos nós, em algum momento da vida, vamos ter que enfrentar a realidade de que os anos passaram para os nossos pais e o cuidado passa a ser dos filhos a eles.
Como enfrentar a realidade e a finitude? Como organizar a parte operacional – que muitas vezes é complexa para eles, mostrarem-se vulneráveis e entender que precisam “entregar o bastão” a seus filhos? Não é uma decisão fácil.
Temos duas especialidades que trabalham com essa idade. A Geriatria e a Gerontologia. O Geriatra cuida de todas as doenças físicas nesta fase: demência, hipertensão, diabetes, osteoporose, tontura, incontinência urinária, quedas sucessivas, e os cuidados paliativos para aqueles que têm uma doença incurável. O Gerontologista ou Gerontológo se dedica, de uma forma multidimensional, a acompanhar o envelhecimento nas áreas psicológica, social, econômica e cultural.
Qualquer escolha que façamos, sempre vai haver um custo emocional, porque são nossos pais, e é muito difícil para eles reconhecer que estão doentes, que podem estar perdendo a lucidez, concluindo que a vida é finita. E há também uma tristeza interna em ver como nossos pais vão se apagando com o tempo. Nos dá medo falar sobre a morte e o que vamos fazer com nossos pais até que a morte chegue? Como podemos atuar na área psicológica, social, financeira e cultural, para darmos conforto a eles?
Como vocês sabem, sou filha única, moro em outro país, e considero que a coisa mais importante nesta fase da vida é a segurança afetiva, emocional.
Há algo em comum a todo adulto vulnerável, que é a necessidade de sentir-se acolhido, de sentir que o outro entende a sua fragilidade, como o medo frente à morte, o medo de ficar sozinho, o medo financeiro… E muitas vezes o que precisamos é só sentar e escutar o que eles têm para falar sobre como estão se sentindo.
Então temos que ter paciência, empatia… e devemos perguntar para nós mesmos: como gostaríamos que nossos filhos nos tratassem nessa fase da vida? Precisamos nos colocar no lugar de nossos pais e entender o que eles precisam. Temos também que pensar qual exemplo estamos passando aos nossos filhos, e deixar um legado para quando chegue o nosso momento. Nossos filhos estão nos observando e da mesma forma como estamos cuidando dos nossos pais, eles vão cuidar de nós. Nossos pais têm a história, a experiência de vida, e estamos aqui porque eles nos trouxeram. Então devemos honrar nossos pais, honrar a história deles…
Como filhos, há alguns pontos que não podemos descuidar:
1 – Precisamos reconhecer que os anos passaram para nossos pais, e assim como passaram pra eles, também passarão para nós. Eles são adultos vulneráveis, então, precisamos estar permanentemente integrados com essa realidade.
2 – Entender o que esse momento nos exige nessa fase da vida deles. Às vezes o que eles querem é só que estejamos presentes no bate papo, na conversa, no carinho, no toque…
3 – Proporcionar pequenas coisas para dar a eles certa dignidade na qualidade de vida nesta fase.
4 – Fazer com que eles aceitem sua própria vulnerabilidade e que nós podemos cuidar deles. Essas são as fases da vida. Entender que a vida é finita, que o outro pode estar vulnerável, ajudá-lo para que não se sinta sozinho, para que não tenha medo no final de sua vida, e para que partam dignamente. A dignidade é algo muito importante nessa fase da vida.
5 – Precisamos nos adaptar à realidade deles, ao mundo deles, sem julgar que a organização não é a mesma de quando eles eram jovens. E respeitar que a prioridade neste momento dentro da casa e da realidade deles é que tenham autoestima e que ainda podem ter autonomia. Por que não dar a eles a oportunidade de viverem como querem, com os cuidados e condições, mas do jeito deles?
Para aqueles que precisam perdoar algo de seus pais, eu sugiro que perdoem, e que sejam gratos por tê-los vivos e que honrem a sua história. Porque a nossa história começou com eles, e nossos pais merecem que os acompanhemos no final.
Este é o ciclo da vida… E faz parte da maturidade. Saber enfrentar a finitude de nossos pais, saber respeitar a fragilidade, os medos, e assumir o compromisso que é nosso. Ter a consciência de que eles precisam do nosso amor, nossa atenção… E amanhã, quando talvez sejamos nós com nossos filhos, eles possam estar presentes para que possamos partir em paz.