Como estar na moda e ser um consumidor consciente?
Para celebrar o Dia da Terra – 22 de abril -, a National Geographic reuniu designers, produtores e especialistas em moda sustentável para listas dicas de como proteger o planeta – mantendo o estilo.
Diante de uma urgente necessidade de mudar a forma como produzimos e consumimos os nossos bens, a moda sustentável – responsável e respeitosa com a Terra – se apresenta como um modelo positivo e possível, cuja proposta se contrapõe ao fenômeno da fast fashion, – a moda rápida -, e à lógica de consumo baseada no “compro-uso-descarto” que ela implica.
Reconhecendo o problema: fast fashion
A indústria têxtil deixou de seguir a lógica da necessidade de reabastecimento para seguir uma tendência que se renova a cada duas semanas e incentiva você a comprar e mudar seu guarda-roupa, explica Laura Opazo no livro Armario Sostenible (Guarda-roupa sustentável, em tradução livre).
“Não estamos inventando nada se dissermos que a indústria da moda/têxtil é uma das indústrias mais poluidoras e consumidoras de recursos do mundo. Você só tem que ir e verificar o lixão ao ar livre no Deserto do Atacama, no Chile, e tirar todas as conclusões só de olhar para ele”, disse Máximo Mazzocco, ativista argentino e fundador da EcoHouse, em entrevista por telefone à National Geographic.
Com base nas publicações dos autores aqui citados e dos especialistas consultados, é possível esboçar um guia simples para começar a dar os primeiros passos em direção ao consumo sustentável da moda.
1. Olhar para o guarda-roupa
Como qualquer mudança de hábito, estar consciente da moda requer, antes de mais nada, um olhar introspectivo. Para Laura Opazo, o exercício de analisar o guarda-roupa é semelhante a olhar para o espelho – você olha e percebe o que gosta e o que não gosta. Nesse exercício, é importante se perguntar: de todas as roupas que tenho, quais uso mais? Quais uso menos? Quantas são semelhantes? Quais definem minha personalidade? Outro aspecto fundamental é trabalhar a criatividade. “Quanto mais criativo, mais você brinca com seu guarda-roupa e menos precisa. Se for comprar algo, certifique-se de que sua peça tenha pelo menos cinco combinações possíveis”, aconselha Opazo. “Uma vez que você sabe o que tem, o que usa, o que não usa, pode dar os próximos passos”, diz Alejandra Gougy, estilista argentina de moda sustentável em entrevista à National Geographic. “Tais como reciclar, doar ou mesmo vender a peça de vestuário em lojas de segunda mão.”
Dica extra: reconheça seu estilo. Como diz Opazo, é importante ser realista com o modo de vida que temos e, consequentemente, usar o tipo de roupa que melhor se adapte a nossa vida diária.
2. Reorganizar o guarda-roupa
Depois de observar tem, você pode dar lugar à segunda dica: reorganizar ou atualizar o guarda-roupa pelo menos a cada duas semanas. Nós tendemos, reflete Opazo, a nos movermos como autômatos, ou seja, fazemos as mesmas viagens toda vez que precisamos de algo. Esse mecanicismo muitas vezes nos impede de ter uma visão mais ampla do que está em nosso guarda-roupa. “Pessoalmente, recomendo reorganizar o guarda-roupa a cada duas semanas. Isso envolve mover as roupas que estão atrás para a frente, mudando os critérios de organização.” Afinal de contas, cada mudança (não importa quão pequena) abre novas possibilidades.
3. Aplicar os 3Rs: reutilizar, reciclar, reduzir
A economia circular propõe um modelo que destaca os chamados 3Rs: reduzir, reutilizar e reciclar. Nesse sentido, reutilizar e reciclar significa dar oportunidade às peças de vestuário que poderiam acabar, por exemplo, no aterro do Atacama.
3.1. Como reutilizar peças de vestuário?
De acordo com a Fundação MacArthur, a reutilização permite que o vestuário tenha o mesmo fim a que se destinava originalmente, ou um novo. “Podemos reutilizar peças de vestuário de diferentes maneiras. Você pode apelar para sua própria criatividade, dando outro uso à peça de vestuário original. Outra opção é vender o em lojas de segunda mão ou mesmo trocá-lo com um amigo”, disse Gougy. Outro conselho é assumir a responsabilidade pelas roupas que temos. No caso de Laura Opazo, reunindo as roupas que não usava mais e dando uma segunda chance com a ajuda de sua costureira do bairro.
3.2. Como reciclar roupas?
Quando o vestuário não pode ser reutilizado, o próximo passo é a reciclagem. A reciclagem requer que a matéria-prima, ou o vestuário original, passe por um processo ou tratamento para ser transformado em uma nova matéria-prima. Reciclar também significa muitas vezes encontrar novos usos. Ao redor do mundo, marcas como a liderada por Alejandra Gougy estão transformando roupas e materiais originais para fazer novas peças de vestuário a partir de materiais descartados.
3.3. Reduzir o consumo de moda
Existe uma realidade inegável: produzimos mais do que precisamos. “Reduzir o consumo desnecessário de roupas novas, limitando-se apenas ao estritamente necessário, é o que eu aconselho a partir de minha experiência pessoal”, sugere Máximo Mazzocco. Já Opazo, ao reorganizar seu guarda-roupa, notou que, em muitos casos, tinha roupas semelhantes ou repetidas, tais como camisas da mesma cor ou praticamente os mesmos tons. A pergunta antes de comprar é, portanto: Eu realmente preciso disso?
4. Ler o rótulo
Todas as informações de que precisamos ao decidir se devemos ou não usar uma peça de vestuário devem estar na etiqueta. Para Opazo, verificar a etiqueta é um bom exercício de consumidor consciente. Lá você pode encontrar a composição. Isso permite avaliar seu impacto sobre o meio ambiente.
5. Priorizar as marcas locais
O processo de fabricação têxtil é longo. As distâncias, por exemplo, têm impacto sobre as emissões de gases de efeito estufa. A mudança de uma peça de vestuário da China para um país latino-americano, por exemplo, não gera os mesmos danos ambientais que uma peça de vestuário que é fabricada e distribuída dentro da mesma região, país ou cidade.
Dica bônus: cuidado com as compras digitais. No mundo da moda, o comércio eletrônico já é uma prática diária. No entanto, Laura Opazo recomenda ter cuidado com esse tipo de compra, especialmente no que diz respeito ao percurso da peça. Em muitas ocasiões, os preços de remessa são aparentemente gratuitos. “Com esta desculpa, compramos dois tamanhos ou várias peças de vestuário para experimentar em casa”, diz Opazo. “Mas não levamos em conta que esse processo envolve uma viagem que o vestuário faz e que gera um significativo rastro, cujos custos acabam sendo pagos pela Mãe Terra.”
6. Envolver-se
Envolva-se na mudança. “O mais importante é começar por si mesmo”, resume Mazzocco. “Porque antes dos grandes desafios que as empresas e os governos devem assumir com urgência, existe o compromisso individual.”