Essa é uma pergunta frequente nos consultórios médicos. Muitas vezes difícil de ser respondida porque até o presente momento utilizamos uma classificação chamada de IMC (índice de massa corpórea), o qual é calculado com o peso (kg) dividido pela altura (m) ao quadrado. Mediante esse cálculo, definimos o indivíduo como sendo de baixo peso, peso normal, acima do peso, obeso ou obeso mórbido.
Infelizmente esse índice tem suas limitações, não se leva em consideração o peso por massa muscular (principalmente nas atletas) e por edema (aquelas pacientes com retenção de líquido) – elementos que acabam falseando o resultado para valores fora do real. Outro ponto importante é a história familiar, estrutural e física do indivíduo. Sabe- se que algumas famílias têm um porte ósseo maior, são pessoas mais robustas e dificilmente atingirão o IMC considerado normal. E ainda existem os indivíduos que já foram mais obesos e conseguiram reduzir ao longo dos anos o peso, sem, contudo, obter o IMC ideal.
Embasados no conceito do IMC, muitos passam a vida lutando para atingir esse peso considerado normal, e com isso acabam utilizando dietas extremamente restritivas, medicamentos sem orientação médica ou outras práticas inadequadas. A falta de informações adequadas torna-os suscetíveis a tratamentos sem nenhum embasamento científico para reduzir o IMC. Essas atitudes, além de pouco saudáveis, promovem o reganho de peso com maior facilidade e frustram muito o indivíduo, agora desestimulado.
Em contrapartida, muitas pessoas controlam o peso, têm perdas consideradas discretas, mas progressivas e sustentáveis, mantêm um estilo de vida saudável com boa alimentação, atividade física regular e exames sempre dentro dos normais, sem nunca conseguirem atingir esse IMC ideal. Pode parecer um resultado pouco satisfatório em relação ao peso, entretanto é muito vantajoso em relação à prevenção de doenças e à redução de riscos.
Levando esses aspectos em consideração, uma nova proposta de definir o peso ideal vem sendo indicada, a qual tem como base a trajetória do peso. A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) junto com a Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO) propõe que, no tratamento do paciente obeso, a meta principal não é atingir um IMC normal, mas valorizar o quanto o indivíduo conseguiu reduzir e manter de peso durante a vida. É bem estabelecido que perdas de peso, mesmo que modestas, trazem grandes vantagens para a saúde, bem como benefícios na redução dos riscos que advêm do excesso de peso (hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes). Independente do IMC final do tratamento.
A obesidade é uma doença crônica, causada por múltiplos fatores (ambientais, sociais, genéticos, fisiológicos), de difícil controle clínico e sem uma medicação ideal curativa. É uma doença que depende muito do esforço e organização individual. É uma enfermidade que gera outras doenças que impactam na qualidade e expectativa de vida. Vários estudos enfatizam a perda de 5-10% de peso para reduzir riscos, mas poucos valorizam a manutenção do peso ao longo dos anos para evitar o efeito iô-iô.
Pacientes com diagnótico recente de diabetes tipo 2, que conseguiram perder 10-15% do peso, tiveram um índice de remissão da doença de 57% e 86% respectivamente.
Nessa nova proposta, há uma valorização maior do quanto de peso uma pessoa perdeu em relação ao peso máximo que alcançou na vida (excluindo peso na gravidez). Perdas em torno 5-10% para aqueles com IMC de 30-40kg/m2 indicam redução da obesidade, já perdas maiores que 10% apontam uma obesidade controlada e com redução importante dos riscos para saúde. Os valores mudam um pouco para os com IMC maior que 40kg/m2.
Essa proposta vem ao encontro de encorajar um emagrecimento sustentável, estimular um controle de peso mais gradativo e duradouro, valorizar o esforço e resultado de manter este peso perdido a longo prazo.