Muitas vezes o medo ao comer, a culpa pelo o que ingeriu, a pratica constante de dietas, muitas restrições alimentares sem sentido ou fundamentos, métodos compensatórios para perder ou controlar o peso, alternados com episódios compulsivos, podem não preencher os critérios para se classificar o indivíduo como portador de um transtorno alimentar, mas esse é certamente o caminho de se chegar até ele. O ato de comer tem que estar atrelado a uma necessidade básica e aos sinais do próprio corpo, respeitando os sintomas fisiológicos de fome e saciedade. Sempre que a alimentação estiver vinculada a sentimentos de angústia, medo, culpa, ansiedade ou remorso, temos um problema sério! Comer não pode ser ou se tornar um sofrimento, tem que ser um momento de prazer e bem estar.
Temos dois universos simultâneos no mundo atual, de um lado a alta prevalência da obesidade, de outro o aumento desses comportamentos de risco entre adolescentes e principalmente estudantes universitários. A problemática é global e a prevalência no Brasil aponta que em adolescentes de 12 a 19 anos, encontra-se até 37,3% com sintomas de compulsão alimentar e 24,7% fazendo dieta restritiva. Esses jovens apresentam hábitos, crenças e convicções inadequados e sem nenhum embasamento científico ou médico. A globalização de informações sobre beleza, magreza, dietas e a “pressão” social, são alguns fatores responsáveis pelo início desse comportamento de risco. Deve-se ainda considerar a influência de fatores pessoais como experiências alimentares e cultura familiar, classe social e padrões de beleza. Estudos apontam que 90% das mulheres tem queixas em relação à imagem corporal, 65% das universitárias querem ser mais magras (mesmo estando com o peso dentro da normalidade).
Todo esse controle obsessivo de peso, de calorias, de grupos alimentares, gera uma angústia interna imensa que ocupa grande parte do pensamento do indivíduo. A idéia de comer saudável extrapolou para uma forma de sofrimento físico, social e emocional imensurável. A cada convite ou evento social, o individuo sente um medo grande porque terá que sair de um ambiente seguro, com um plano alimentar limitado e pré estabelecido, para enfrentar sinais fisiológicos do próprio corpo. Perde-se a confiança nas suas próprias escolhas e vontades. Limita-se o convívio social e aumenta-se o medo pelo desconhecido, mas o pior é que muitos não reconhecem esse estado de saúde ou têm medo de buscar ajuda e perder o controle sobre o “corpo saudável” que conquistou. O individuo vira refém do corpo e da alimentação, e o pior, muitas vezes sofre em silencio.