Este ano não tem sido fácil em relação ao cuidado com meus pais.
Minha mãe esteve internada, à beira da morte no começo do ano e agora, em novembro, também.
Fui para Buenos Aires para cuidar de ambos: pai e mãe. Minha mãe por estar em um estado que exige cuidados permanentes: médicos e de enfermeiros. Me pai por estar desesperado.
Eu, como filha, sofro muito por ver de perto a finitude de minha mãe e, ao mesmo tempo, o estado de saúde dela. Ela vai e volta com a consciência. Não se mexe sozinha. Tem momentos de lucidez, mas dorme muito.
Enquanto isso meu pai não quer deixá-la partir. Diz não saber viver sem ela.
Eles estão juntos há tantos anos que não se reconhecem sozinhos. É incrível ver como funcionam.
Passei dias cuidando dos mais diferentes trâmites: desde os que envolvem os cuidados médicos, até os pequenos cuidados como compras no supermercado, arrumação de gavetas, pagamentos de contas e afins.
Ao mesmo tempo, tenho meu trabalho em São Paulo e meus filhos.
Muitas vezes me senti dividida entre deixar tudo e ficar com meus pais. Como esses sentimentos tomam conta da gente!
Percebo sempre como eu amo meu trabalho e como ele me faz falta. Deixar de realizar encontros me dói muito também.
Então foram muitos dias das mais diferentes dores.
Na casa dos meus pais, entre idas e vindas ao hospital, a rotina diária era de ministrar doses de remédios, troca de fraldas, alimentação..
O corpo que não tem mais dono… é muito desagradável ver quem se ama nesse estado, dependente.
Ao mesmo tempo, poder acompanhar de perto, estar presente, saber que ajudei como filha, que minha mãe pode olhar pra mim e saber que eu estou com ela em todos os momentos, é uma sensação muito boa, de completude.
A gente nunca imagina que vai passar por isso. Eu nunca imaginei que teria que ficar na casa dos meus pais cuidando de tudo deles e, ao mesmo tempo, vendo a morte tão de perto.
Descobri, dentro do processo, que ter sido uma filha presente me tira um peso terrível das costas.
Mesmo tão de perto, a gente pensa se podia ter feito mais, se teria que ter passado mais tempo com eles, coisas desse tipo. Mas é um alívio perceber que fiz o que pude, e continuo fazendo.
Sou filha única. Isso também tem um peso grande. Sou eu a única que pode ajudar. Sou eu a única que pode dar uma força pro meu pai que está arrasado. Todas as questões sou eu quem resolvo, ou procuro resolver.
Todas as dores e amores, são de nós três.
A vida como ela é.
Meu dever tem sido comprido. Nossas constantes despedidas dilaceram minha alma, mas também me trazem alento.
Estamos e sempre estivemos juntos, mesmo eu em outro país.
O amor é que aquece nossos corações. Volto a ser criança, mesmo sendo a adulta que dá conta de tudo. Mas sou filha nesse trio. Sou a menina que eles tanto amam. E a mulher que os salva, de alguma maneira.
São muitos sentimentos envolvidos.
O que penso também é: que vida longeva! Quanto ambos puderam viver! E isso também aquece meu coração.
A finitude da vida está presente o tempo inteiro, nós que não a enxergamos. Mas quando enxergamos, aos poucos, conseguimos lidar a partir de outros aspectos.
As despedidas nunca são definitivas, mesmo frente à morte, porque as lembranças são eternas.
Nesses dias aprendi que a gente tem que encarar a vida e a morte como pertencentes da mesma coisa.
Tudo fica mais fácil e toma um outro contorno.
Quem está passando por algo parecido, pode me chamar.
Esse espaço é justamente para isso: troca de informações para o crescimento de cada uma de nós.
O Caminho do Encontro me ensinou tantas coisas!
Percebi isso em todos os momentos que estive com meus pais.
Isso me traz alegria e muita paz.