Tenho 58 anos, e a minha mulher inspiradora em maio completa 75.
Essa guerreira é minha mãe, dona Nanci.
Nasci em uma família de classe média, e nos primeiros anos de vida, meu pai tinha um comércio que ia bem e nos oferecia uma vida relativamente tranquila.
Éramos eu, mamãe, papai e meu irmão mais novo. Mas uma chuva muito forte fez com que um rio recém canalizado transbordasse e inundasse sua loja, fazendo-o perder tudo.
Nesta ocasião, minha mulher inspiradora já havia passado por uma grande perda na vida. Depois de ter gerado dois filhos homens, veio a menininha tão sonhada e por um infortúnio, os instrumentos do parto não estavam bem esterilizados e o anjinho, devido ao tétano no umbigo foi morar no céu, com apenas 7 dias.
Meu pai, após essas duas grande perdas passou a beber mais e mais. A minha guerreira então, começou a se desdobrar para ajudá-lo a se reerguer…
Comprou uma máquina de tricô e fazia blusas, meias, roupas de bebê e toda sorte de roupas de lã. Por conta de uma tia que estava lutando contra aquela doença danada, ela aprendeu a fazer perucas.. num primeiro momento foi por solidariedade, depois se transformou em uma forma de ajudar no orçamento.
Quando tinha 11 anos, um acidente levou embora seu irmão, com apenas 23 anos. No ano seguinte, minha avó teve um AVC muito severo e a deixou em cima de uma cama dependendo dos cuidados de sua filha mais velha. Nesta ocasião, tinha mais 2 irmãos. Minha mãe passou a dedicar meio período do seu dia a cuidar de minha vó e de meu avô.
Mas para isso contou com nossa ajuda, minha e de meu irmão, os mais velhos. Para que meu pai não reclamasse das coisas por fazer em casa, ensinou-nos a cozinhar, arrumar a casa, lavar louça e todos os afazeres da casa, além de cuidar dos irmãos menores. Como sempre fomos muito unidos, não tivemos muitos problemas com essas tarefas. Foi assim durante um bom tempo.
Depois que vovó se foi, meu avô também teve o primeiro derrame cerebral e advinha quem cuidou dele?
Em se tratando de cuidar de pessoas doentes, minha mãe parece que carregou uma sina, porque foram muitos. Além dos que já descrevi, ainda tiveram, minha bisavó, que acabou vindo morar conosco para que foi cuidada mais de perto. Depois meu pai, que com pouco mais de 40 anos, desenvolveu uma cirrose hepática muito grave. Foram 9 anos cuidando do meu velho, até que ele partiu.
E entre cuidar das doenças dos outros, ainda teve que lidar com seus próprios desafios… lutou bravamente contra o câncer de mama e na tireóide… graças a Deus venceu as doenças.
Mas nem tudo é luta, tristeza e perdas… nós, os filhos, somos todos casados, vivemos com as mulheres que escolhemos como esposas, tivemos nossos filhos e alguns filhos tiveram seus filhos, o que quer dizer que essa mulher maravilhosa que chamo de mãe, tem netos e bisnetos, o que a deixa babona e toda prosa. Outra coisa que a deixa muito feliz e realizada é ver que seus filhos se tornaram grandes amigos, sempre um cuidando do outro.
Agora, imaginem, uma mulher que teve que lidar com tantas perdas, com o alcoolismo e o machismo do marido, com suas doenças, com muitas dificuldades financeiras, e outras tantas desventuras … poderia ser uma pessoa triste, queixosa, amarga… que nada… é exatamente o oposto. Ela é cheia de vida, gosta de uma boa leitura, tem muito amor pra dar, tá sempre pronta pra ajudar quem quer que seja, brinca como criança com os netos e bisnetos, tem sempre uma palavra de conforto e incentivo. Pra mim é um ser de luz! E tomando emprestado uma frase que li, não sei onde e nem sei de quem é, mas diz assim: “Quisera, por um descuido, Deus te fizesse eterna, mãe”.
Minha mãe chama-se Nanci Aparecida Lozano Pressi
Meu nome: Wagner Aparecido Pressi