A preocupação com o peso e doenças como diabetes, hipertensão e dislipidemia sempre foi um tema “chato” para as pacientes durante as consultas médicas. O enfoque ou é muito voltado para a parte estética ou muito às solicitações do profissional de saúde por uma qualidade de vida melhor. Insistir em um controle peso, alimentação saudável e exercícios físicos parece um discurso repetitivo dos médicos, mas que obviamente estão embasados em dados de morbidade e mortalidade que essas patologias causam. Doença cardiovascular (infarto e acidente vascular cerebral), câncer, doenças respiratórias são as doenças que mais matam no mundo (mais que o COVID 19) e tem relação com o estado metabólico da mulher (peso, níveis glicose e colesterol, pressão arterial).
A pandemia com COVID- 19 tornou esse tema ainda mais real à medida que os estudos observacionais identificaram um risco maior de mal prognóstico e mortalidade nos indivíduos obesos, diabéticos, hipertensos e com síndrome metabólica. Algumas regiões, 20-50% dos pacientes com COVID 19 tem diabetes mellitus tipo 2 e 89.3% tem uma ou mais das seguintes condições: hipertensão arterial (49.7%), obesidade (48.3%), doença pulmonar (34.6%), diabetes mellitus (28.3%) e doença cardiovascular (27.8%).
Paradoxalmente, nas últimas guerras, as pessoas que mais sobreviveram à fome e escassez foram os indivíduos com maior reserva energética, agora esse excesso de adiposidade, níveis de glicose e lipídeos elevados são fatores negativos para sobrevida. Principalmente nas faixas etárias após os 45 anos onde muitas mulheres estão no climatério e menopausa, com facilidade para ganhar peso e sem a proteção cardíaca pelos hormônios sexuais.
Conhecidamente essas doenças têm uma fisiopatologia que leva a uma lesão do endotélio vascular e menor resposta do sistema imune à uma agressão externa, que quando associado a infecção pelo COVID 19 agrava as lesões vasculares em múltiplos órgãos concomitantemente com uma menor resposta imunológica. Em outras palavras, pacientes que já estão com suas patologias causando um processo inflamatório crônico nos tecidos são agravados pela presença do vírus. Subitamente o tema vida saudável passou a ter uma relevância ainda maior na nossa vida.
Justamente num momento em que as pessoas se encontram em isolamento, com limitações de suas atividades físicas, sob intenso estresse psicológico e econômico, deparando com notícias frequentes do número crescente de óbitos, também precisam se preocupar com sua saúde física. Talvez esse momento seja oportuno para rever hábitos de vida, reorganizar sua alimentação (dentro das suas condições e preferencias), valorizar e iniciar uma atividade física aeróbica, equilibrar o emocional e pôr em pratica a antiga meta de uma vida mais saudável, entendendo que saúde física e mental nem sempre são sinônimos de corpo esbelto e magro, e vida saudável não significa dietas restritivas ou limitadas.
Voltamos a falar do velho equilíbrio e bom senso. Boa alimentação é mais do que ingerir nutrientes. Envolve como são combinados e preparados, o modo de comer e seu conteúdo simbólico, cultural e social. Aprender a gerenciar as escolhas com autonomia e autocuidado, cozinhando refeições saborosas e balanceadas, usando todos os grupos de alimentos, criando regularidade e ambientes apropriados, em companhia quando possível, reservando um momento para que as refeições sejam feitas com atenção. É hora também de treinar habilidades culinárias e trocar experiências!
Nós mulheres ainda temos um papel fundamental na organização da rotina do lar e em estimular hábitos mais saudáveis, os filhos copiam nossos atos e precisamos dar bons exemplos. Nunca foi tão importante atingir um equilíbrio cuidando do físico e do psicológico, para isso precisamos nos redescobrir nessa nova fase de vida.