Mulheres e homens maduros decidem entrar em aplicativos de relacionamento esperando um resultado que muitas vezes não chega. E o olhar está focado no físico, na oferta desmedida, na falta de filtros mais assertivos, mas na verdade há algo mais profundo e enraizado.
Os modelos das formas de nos relacionarmos estão mudando. Ganhamos liberdade, independência, gostamos da nossa própria companhia, fizemos um círculo íntimo de família e amigos, e talvez haja algo que poucos querem dizer. Nosso divórcio, o encerramento de um último relacionamento, foi tão doloroso, apesar de termos crescido, que nos deixa vulneráveis ao pensar em um novo relacionamento.
Temos horas de voo no espaço afetivo. Isso nos faz escolher de outra forma hoje. A isso se soma a era da dopamina, a rapidez de deslizar o dedo e ter novas ofertas superficiais, substituindo o que é profundo, novas possibilidades e sempre buscando algo melhor.
Por que não?
Assim, a solidão foi ganhando corpo, as satisfações físicas íntimas foram sendo substituídas e, para alguns, dilatadas no tempo. Para aqueles que entraram no aplicativo e conseguiram dar um match, depois passaram ao WhatsApp, talvez ao encontro presencial, e como consequência vem a incerteza. Alguns preferiram sair, outros estão lá, mas já não entram diariamente, e outros continuam tentando, mas com um gosto de insatisfação.
Vários pontos para analisar até aqui dessa realidade. A superoferta, a diferença que poucos entendem entre estar disponível ou disposto dentro de um aplicativo, um mundo virtual que nos consome e a realidade que custa sustentar.
Estar com alguém é uma decisão, é a decisão de querer construir e apostar em uma única opção, é decidir ter diálogo, viver o humor, tocar-se, apaixonar-se, trazer a ironia para o dia a dia e tornar a vida mais leve, aceitar e ser aceito, saber impor limites para respeitar os espaços construídos, mas também saber que há alguém nessa loucura de selva que vai querer saber como estamos, como nos sentimos, como foi nosso dia, ouvir-nos, abraçar-nos, seduzir-nos e cuidar de nós.
Nada substitui o contato, a escuta, o abraço, o orgasmo compartilhado. Nada é mais solitário do que desfrutar sozinho. É uma situação momentânea e não entra no eterno. Grande diferença quando é a dois. Esta é a foto do momento para muitos e muitas.
Quanto tempo faz que não assistem a um filme com alguém?
Quanto tempo faz que não estão nus frente ao outro de corpo e alma?
Considero que vamos ter que rever nossas exigências, nossas vulnerabilidades e entender que parte dessa saúde que tanto buscamos, falamos, desejamos, estamos construindo, sabendo que a dois chegamos mais longe, que uma longevidade com um vínculo de qualidade estende os anos de vida, de lucidez, muito mais do que a solidão.
Acho que precisamos pensar, além da saúde física e financeira, qual saúde emocional vinculada ao neurológico e ao cardiovascular, entre outras coisas, vamos cuidar a partir do amor, do contato, do sexo, da escuta.
O que vamos querer da próxima vez que arriscarmos entrar em um aplicativo ou conhecer alguém?
Tenham em mente tudo isso porque sobre nossa possibilidade de construir, de voltar a desfrutar de um mundo talvez compartilhado, podemos ter a longevidade que tanto desejamos.