Na trama complexa que compõe a dinâmica familiar contemporânea, um papel frequentemente desempenhado com grande amor e dedicação, mas pouco reconhecido, é o da filha que se torna cuidadora de seus pais idosos. Esta jornada, repleta de desafios emocionais, físicos e financeiros, reflete uma realidade vivida por muitas mulheres maduras, cujos esforços no cuidado aos pais são frequentemente invisibilizados pela sociedade. Eu sei bem disso. Como filha única, cuido de meus pais que moram em Buenos Aires. À distancia, não apenas lido com o dia a dia deles, como também estou online 24 horas por dia para qualquer urgência.
Para muitas filhas, assumir o cuidado dos pais idosos é uma transição que ocorre muitas vezes de maneira gradual, conforme as necessidades de saúde e de assistência dos pais aumentam. Esta mudança de papéis pode trazer consigo uma série de desafios, incluindo a gestão de condições de saúde complexas, a adaptação de espaços para garantir a segurança e o conforto dos idosos, e a necessidade de equilibrar o tempo dedicado aos cuidados com as responsabilidades profissionais e pessoais.
Além dos desafios práticos, há também uma carga emocional significativa. As filhas cuidadoras muitas vezes enfrentam sentimentos de preocupação, culpa e exaustão, enquanto navegam pelas expectativas sociais que recaem sobre elas. A pressão para serem cuidadoras perfeitas, em conjunto com a necessidade de atender às suas próprias demandas de vida, pode levar a um estado de sobrecarga emocional e física. Muitas vezes me senti assim, quase que isolada do mundo, cansada e sem ver uma saída. Meus pais já estiveram gravemente doentes e eu fiquei super atarefada, além de muito preocupada, sem dormir, com uma mochila emocional que mal conseguia carregar.
A invisibilidade desses cuidados advém, em parte, de normas culturais que veem o cuidado aos pais idosos como uma extensão natural do papel feminino na família, minimizando as dificuldades enfrentadas e a necessidade de apoio externo.
É essencial promover uma maior visibilidade e reconhecimento do papel dessas filhas no cuidado aos pais idosos.
Criar espaços de diálogo e suporte, onde essas filhas possam compartilhar suas experiências e desafios, é um passo crucial.
O Caminho do Encontro está aberto a isso!
Grupos de apoio podem oferecer um senso de comunidade e compreensão mútua, além de serem fontes valiosas de informação e recursos.
Enquanto a sociedade avança, é imperativo reconhecer e valorizar o papel das filhas que se dedicam ao cuidado dos pais idosos. Ao trazer à luz as dificuldades que enfrentam e ao oferecer o suporte necessário, podemos começar a desfazer a invisibilidade que cerca seu trabalho, celebrando a dedicação, a força e o amor que movem essas mulheres a cuidar dos que um dia cuidaram delas.
Deixar de ser filhas com eles vivos é todo um processo afetivo…
A mudança de lugar quanto a cuidar e ser cuidada é delicada, mas real e necessária.
Além do que, nossos filhos estão observando também o modo como nos colocamos no lugar de nossa mãe e nosso pai. Isso faz pensar como queremos ser tratadas neste percurso final da vida: com amor e muita compreensão.